Quando era apenas pequena olhava o céu
Lá no alto, tão distante, o lar de Deus
Sonhava com seus pássaros, amava suas cores
E a chuva apenas servia para a pintura
Que Deus ia fazer sobre o pôr-do-sol
Mas então parei de olhar o céu
Porque o mundo embaixo me puxava
Realidade, palavra bonita,
Significado cruel
A cidade me sufocou
Com sua poluição de ganância
Mentiras, violência, medo
Agora quando lembro de olhar pro céu
É só pra ver se vai chover
E a chuva hoje parece lágrimas
De anjos esquecidos, de um Deus magoado
E o pôr-do-sol é vermelho-sangue,
Como o sangue vermelho da cidade
De sacrifícios, suicídios, homicídios...
Alguém dá um grito
Que fingimos não ouvir
Apenas apressamos os passos
Mas nunca apressamos o progresso
Que é uma velha sem dentes nem forças
Podre de doenças, a antiga puta da humanidade
Não tem mais nada a oferecer a não ser
Sua risada irônica, rouca, insana
Tudo o que é belo está sendo estuprado
Só que a corja de ladrões e assassinos
Não pode cuspir no céu imaculado
Pois sabe que uma hora volta
Maculando a própria face...
Bizu
