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segunda-feira, 15 de março de 2010

Sem Título (que ironia, por si só se intitula!)

Não sei por onde começar...
Procuro por paz em minha mente
E reúno vestígios de força e coragem
Me sinto contaminado, poluído
Como a cidade lá fora
A chuva não pode lavar as almas...
Nem varrer a hipocrisia para dentro dos bueiros
Já entupidos por tanta ganância
Eu quero respirar!...
Mas o ar está envenenado de mentiras
Mal posso olhar no espelho
Enferrujado e partido
Então vivo de máscaras
Feitas de papel-moeda
Ouço uma música de palavras soltas
Que só agora entendo o sentido
Eu não sou o único
Não posso ser o único
A chama pequena dança
O sol se foi...
Mas o céu está vermelho
Há uma rosa iluminada
E seu perfume é mortal
Para a cidade de anjos caídos
O vinho da ceia embriaga
Aos cristãos que crucificam
A menina-prostituta que tem fome
Todos os dias flagelamos Cristo
As chagas da Esperança estão sangrando...
A Justiça é uma taverneira
E o Progresso, um cafetão
E eu, mais um cliente
Quem sabe amanhã eles me contratem...
Eu ainda não morri e estou apodrecendo
Começando por dentro
E o gosto das palavras é amargo
A mente vive uma eterna embriaguez
Me diga onde você passou a noite
Não minta, eu farejo suas mentiras
Com que você se deitou?
Me diga, você gostou?
Você alguma vez me amou?
Seu pescoço pulsava...
Seu olhar era tão assustado...
Queria me gritar alguma coisa...
E de repente, ficou pálida
Cor-de-marfim, leve tom azulado
Como uma estátua imaculada
Vou adorá-la por uns instantes (...)
Fingir que sou feliz...
A chuva cessou?!
Abro a janela e verifico...
As luzes da cidade me cegam
Preciso sair daqui.
Fecho os olhos... abro os braços...
Há vento em meu cabelo
O meu corpo está inerte
Me sinto inocente do mundo
E sou grato por raros segundos
Antes de ir ao encontro da calçada úmida.
Não sei por onde terminar...

Bizú

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